1 de junho de 2007

Conto "O Violino" - 8ª Parte

Depois de tantos casos não lhe custava admitir que era uma boa hipótese, contudo mãe e filha eram tão ligadas! Embora Lena odiasse as ditas aulas era próxima da mãe e com ela dividia muitos dos seus problemas, contava-lhe as suas experiências e partilhavam muitos objectos. Eram muito idênticas, tanto nos gostos como na personalidade, ainda que em sua mãe se destacasse mais o sorriso predominante. Mesmo nos momentos mais difíceis, tinham sempre uma palavra amiga para dizer, um consolo. Nunca tinha notado intrigas naquela família, davam-se muito bem, inclusive até com Maria, que embora sendo a empregada nunca deixara de jantar com eles. Exigência da patroa! Lá no fundo queriam acabar com as diferenças de tarefas. Dentro daquela casa todos eram iguais, todos tinham as suas funções e horário para o convívio entre eles. Jantavam todos juntos, fora os dias em que alguém chegava mais tarde e avisava Maria. Não era um quartel-general, enganem-se os que o estão a imaginar, era apenas uma casa onde existia respeito e amor pelos primeiros princípios.

Mais uma vez estava confuso. Precisava de uma pequena pista que confirmasse ou desmentisse as suas teorias. Bem que o assassino poderia ter deixado uma pista digital. Seria tudo muito mais fácil. Isso levava-o a imaginar um criminoso informado e muito actualizado. Quem seria? Lena era demasiado ligada à mãe, sempre procurara a felicidade de ambas: Mesmo que tivesse descoberto a traição, nunca teria uma atitude tão drástica e horrível. Era a sua mãe. Luciano amava a sua futura sogra, não tinha motivos para querer a sua morte. Quanto a Júlio podia ter descoberto toda a verdade, mas nem assim ganharia coragem. Sobrava assim a simples empregada, que se quisesse um aumento de salário tê-lo-ia, que era tratada com muito carinho e simultaneamente protegida pela sua patroa. Também não podia esquecer o estado de aflição em que a encontrar ao ver a patroa morta.

A biblioteca estava fria, porém o sol já tinha nascido. O detective ergueu-se da cadeira, que lhe servira de cama, para abrir as ilustres cortinas. Para o seu espanto, do lado de fora, encontravam-se Lena e Luciano. Estes também discutiam os seus pensamentos. Via-se nas suas caras, estavam a falar da noite do crime. Permaneceu ali, à escuta, ouvindo conversa alheia, que podia ajudá-lo na resolução.

- Não apareceste naquela noite.

- Outra vez com essa conversa! Minha querida, já te expliquei que não tinha rede.

- Eu sei. Desculpa, mas…

- Percebo que queiras encontrar o culpado pela morte da tua mãe, todavia não podes desconfiar das pessoas que te rodeiam.

- Desculpa-me, Luciano.

- Prometo-te que, quando descobrirem a pessoa que se esconde por detrás do corpo de tua mãe, vou fazer o possível para que esta apodreça na prisão.

- É tão bom ter-te aqui. Tenho de aproveitar estes pequenos momentos.

O casal afastou-se e com ele a mágoa e a parte sentimental, de seguida ao inspector chegou a parte profissional, carregando com ela as dúvidas de sempre.

Aquelas palavras de Lena ecoavam na sua cabeça, no as usava de qualquer maneira, não podia, algo lhe dizia dentro de si. Sentia-o, mas o que seria? Gostava tanto de saber o que aquele ser escondia, a quem se dirigia e principalmente o que significava aquela combinação de letras, sim porque a um homem sábio nada diziam. Esperava encontrar uma simbologia, um sinal. Procurou entre computadores pastas discretas. Malditas pastas! Eram tantas. No meio encontrou o que procurava, “Lena” era o seu nome. Hesitou, mas abriu-a. Para seu espanto tinha password. Mais uma vez estava tramado! Tinha de descobrir uma maneira, uma palavra que se adequasse a situação.

Foi interrompido:

- Desculpe Senhor, Luciano insiste em falar-lhe.

- Mande-o entrar.

- Com sua licença.

- Toda.

Luciano entrou calmamente na sala, tirou a boina que lhe tapavam seus cabelos loiros e continuou:

– Eu precisava de lhe dizer que embora eu namorasse com Lena…

- Eu sei. Já descobri esse desvio.

- Contudo …

- Não tens nada a temer da justiça, se não a mataste. Porque estás assim?

- Depois de saber que eu estive envolvido com ela, podia pensar que fui eu que a matei.

- Eu não posso só pensar, preciso de factos. Pensar não resolve nada. Depois de eu descobrir quem foi falamos... Era só isso?

- Era.

- Então peço que me deixes a sós.

Luciano voltou as costas, gemendo, doía-lhe tudo o que se estava a passar. Acontecimentos que lhe feriam o coração. Pobre de mim, porquê me tinha de acontecer isto? Porquê? Sempre tentei ser boa pessoa, amar sem limites, e depois matam-me, quem sinceramente responde aos meus sentimentos.

- Luciano!

- Sim. – Retorquiu o sofredor apaixonado

- Tu que conheces muito bem Lena, sabes algum “ditado” que ela goste muito?

- Sim ela gosta de alguns.

- Tais como?

- “Não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje”, “O verdadeiro pecado seria negar o que o teu coração verdadeiramente sente”. Acho que são os seus preferidos.

- Obrigado.

Deste modo Luciano abandonou a biblioteca. Naquele momento a divisão era unicamente destinada à investigação. Ninguém se entrevia a interromper o seu trabalho. Maria aparecia de vez em quando, quando chamada, e trazia consigo umas bolachas, para que entre as refeições ele não passasse fome. Este agradecia, realmente precisava de se manter bem.

Escolheu o segundo ditado, seleccionando palavras, não sabia o motivo, era como se fosse uma atracção, estava a dizer-lhe que o queria ajudar. Inseriu as palavras e aquela pasta abriu. Uma caixa encontrada, que lhe revelava e dava pistas que teve de abandonar, uma vez que foi interrompido pelas bolachas.

- Obrigado, Maria.

- Ah! É verdade, Júlio está doido. Procurou-o por toda a casa.

- Ele quer falar comigo?

- Não sei, não me disse o que queria. Mas devia ser urgente. O patrão estava fora de si. Trabalho cá há anos e poucas vezes o vi assim.

- Deixe, não se preocupe, eu mesmo irei procurá-lo.

- Não é necessário, Maria deixe-nos a sós. – Disse Júlio, aparecendo no fundo do corredor

Júlio e o amigo fechados na imensidão falaram durante horas. Uma conversa exaustiva, sim, pela cara de Júlio quando saiu, deixando o detective mais uma vez sozinho.

(Fátima)


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